domingo, 9 de dezembro de 2007

Síndrome de Asperger

Caríssimos leitores, pedimos muitas desculpas pela nossa ausência demorada, mas não nos foi possível actualizar o nosso blog durante vários dias. Neste época de testes, entre livros de Português, de Matemática e de Psicologia, mal tivemos tempo para ligarmos a internet, isto não significa, porém, que não tenhamos continuado a trabalhar, com muita dedicação, no nosso projecto.
Para ficarem com um ideia, na passada terça-feira, entregámos o relatório final do 1º Período, que sintetiza todo o nosso trabalho realizado desde o início do ano e, além disso, também o apresentámos à turma.
No dia 6 de Dezembro, durante toda a manhã, assistimos a um congresso internacional de Síndrome de Down, na Gulbenkian. Esta experiência, partilharemos convosco mais tarde.
Por agora, desfrutem de um texto que escrevemos sobre Síndrome de Asperger. Esperamos corresponder às vossas expectativas.

Breve Introdução
Quase desde o berço este notável menino revelara um edificante amor por alfarrábios e por todas as coisas do saber. Ainda gatinhava e já a sua alegria era estar a um canto, sobre uma esteira, embrulhado num cobertor, folheando in-fólios, com o craniozinho calvo de sábio curvado sobre as letras garrafais da boa doutrina; e depois de crescidinho tinha tal propósito que permanecia horas imóvel numa cadeira, de perninhas bambas, esfuracando o nariz: nunca apetecera um tambor ou uma arma: mas cosiam-lhe cadernos de papel, onde o precoce letrado, entre o pasmo da mamã e da titi, passava dias a traçar algarismos, com a linguazinha de fora.

“OS MAIAS”, cap. III, Eça de Queiroz

A síndrome de Asperger resulta de uma perturbação no desenvolvimento do Sistema Nervoso, variante do espectro de autismo.
O que chama a atenção na S. de Asperger são as perturbações, os defeitos e os excessos, as incapacidades e as prováveis “genialidades”, que coexistem num indivíduo, à primeira vista normal, e que lhe causam um desajustamento grave enquanto ser social, tornando-o surpreendentemente incapaz de gerir de forma competente a sua relação com o meio envolvente.
Essas perturbações que podem surgir, de forma isolada noutras patologias, ou mesmo, mais ou menos moderadas, na população em geral, surgem aqui agregadas e com uma gravidade que interfere de forma significativa com o funcionamento do indivíduo.
Alguns sintomas da S. de Asperger são: dificuldade de interacção social e empatia; interpretação muito literal da linguagem; dificuldade de adaptação a mudanças, comportamentos estereotipados. No entanto, esta síndrome está regra geral, associada a um desenvolvimento cognitivo normal ou alto. É mais comum no sexo masculino. Na idade adulta, a expressão desta doença torna-se menos evidente, podendo os indivíduos fazer uma vida normal.

História da Descoberta
O conjunto de sinais e sintomas que conformam a S. de Asperger foram, pela primeira vez, referidos por Hans Asperger (1944) (antes, Ewa Ssucharewa tinha descrito estes sinais e sintomas como manifestações de uma personalidade do tipo esquizóide, em 1926), depois listados por Lorna Wing em 1981.
Foi justamente Lorna Wing que utilizou, pela primeira vez, o termo "síndrome de Asperger", num jornal médico. Pretendia, desta forma, honrar Hans Asperger, um psiquiatra e pediatra austríaco cujo trabalho não foi reconhecido internacionalmente até à década de 90. A síndrome foi reconhecida, pela primeira vez, no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, na sua quarta edição, no ano 1994.

Epidemiologia
Prevalência: 3 – 5 casos / 1000;
Distribuição por género: masc./fem. = 4/1;
Portugal: 30.000 a 40.000 pessoas com SA.

Causa
A origem desta doença é ainda desconhecida, põe-se a hipótese de ser originada por um lesão cerebral: gestoses, incidentes obstétricos, hipotiroismo congénito, infecções cerebrais pós-natais, esclerose tuberosa ou neurofibromatose. Além disso, também surge, frequentemetne, associada a ouras síndromes, como Trissomia 21 ou Síndrome de X – frágil.


Características
Dificuldade no relacionamento social;
Maneirismos estereotipados e repetitivos;
Interesses obsessivos;
Inflexibilidade a alterações da rotina;
Dificuldade na compreensão de linguagem simbólica;
Dificuldade na compreensão de sinais não verbais;
Peculiaridades na fala e na linguagem;
Comportamento socialmente e emocionalmente impróprio e problemas de interacção interpessoal.

Diagnóstico
O diagnóstico desta síndrome implica a identificação de alterações indiciadoras nos primeiros anos de vida, não pode ser feito com segurança antes dos cinco anos de idade e, na maioria dos casos, só mesmo durante a idade escolar.
Há, actualmente, pelo menos, quatro algoritmos de diagnóstico de S. Asperger citados na literatura: O da ICD-10, o da DSM-IV, o de Gillberg (1989, 1991) e o de Szatmari (1989).
Aqui apenas aparece os critérios de Gillberg, pela sua relação estreita com a clínica.
Segundo Gillberg, a S.A. deve contemplar os seguintes comportamentos: interesses restritos; alteração da linguagem; perturbação da interacção social; dificuldades na coordenação motora; alteração da linguagem não verbal; compulsão para rotinas.
i. Défice da interacção social (egocentrismo) (pelo menos dois dos seguintes).
a. Dificuldades na interacção com os pares
b. Indiferença ao contacto com os pares
c. Dificuldades na interpretação de regras sociais implícitas
d. Comportamento social e emocionalmente inapropriado
ii. Interesses restritos (pelo menos um dos seguintes).
a. Exclusão de outras actividades
b. Adesão repetitiva
c. Actuação mecânica, mais do que com sentido
ii. Necessidade compulsiva para a introdução de rotinas e interesses (pelo menos um dos seguintes).
a. Que afectam significativamente o dia a dia do próprio
b. Que afectam significativamente terceiros
iii. Peculiaridades na linguagem verbal (pelo menos três dos seguintes).
a. Atraso no desenvolvimento da fala
b. Linguagem expressiva superficialmente correcta
c. Linguagem formal, pedante
d. Prosódia bizarra, características vocais peculiares
e. Dificuldade de compreensão de segundos sentidos e interpretação literal
iv. Alterações da comunicação não verbal (pelo menos um dos seguintes).
a. Uso limitado de gestos
b. Linguagem corporal desajeitada
c. Expressão facial pobre
d. Expressão facial inapropriada
e. Marcha peculiar, hirta
v. Dificuldades motoras
Na prática clínica, o diagnóstico é feito se o défice de interacção social se acompanhar de pelo menos quatro dos restantes cinco critérios. Como não há testes que possam comprovar a SA, o diagnóstico é sempre clínico.
· Dificuldades sociais (isolamento, desajuste nas relações sociais, ausência de empatia):
o Teoria da mente (incapacidade de atribuir estados mentais aos outros – pensamentos, sentimentos, intenções);
o Poderá resultar da dificuldade de reconhecer estados mentais em si próprio? (atenção centrada nas sensações è dificuldade de aceder/reconhecer os próprios afectos?).

· Dificuldades não sociais;
o Diminuição da coerência central (dificuldade de seleccionar a informação relevante da que não é relevante e incapacidade de extrair informação do todo - ausência de Gestalt);
o Interesses restritos (pela dificuldade de processamento de informação múltipla em simultâneo?) (pode levar a capacidades de pormenor notáveis);
o Alteração da coordenação motora (por má integração sensorial?);
o Dificuldade no planeamento executivo (poor high level planning) (Controlo executivo deficiente, impulsividade)
Dificuldades no Diagnóstico
As dificuldades no diagnóstico da S. de Asperger resultam, sobretudo, do desconhecimento da etiologia neurobiológica desta síndrome, da sua expressão clínica variável e de se tratar de uma entidade de classificação relativamente recente. Assim (entre outras):
O diagnóstico é clínico; não existem exames auxiliares que o comprovem, podem, quando muito, reforçar o diagnóstico;
Deficiente informação/formação médica.
A concordância entre diferentes classificações não é total e todas elas apresentam insuficiências.
Exames Auxiliares do Diagnóstico
· ASDS (Asperger Syndrome Diagnostic Scale);
· GADS (Gilliam Asperger´s Disorder Scale);
· Inventário da Síndrome de Asperge;
· LEITER-R (Cognição não-verbal);
· EEL / L2MA (Linguagem);
· TOPA (Consciência fonológica);
· TOPL (Pragmática linguística);
· PEABODY (Motricidade);
· Inventário das Estereotipias.

Alterações Básicas na S. Asperger
Dificuldades sociais (isolamento, desajuste nas relações sociais, ausência de empatia):
Teoria da mente (incapacidade de atribuir estados mentais aos outros – pensamentos, sentimentos, intenções);
Poderá resultar da dificuldade de reconhecer estados mentais em si próprio? (atenção centrada nas sensações è dificuldade de aceder/reconhecer os próprios afectos?).
Dificuldades não sociais:
Diminuição da coerência central (dificuldade de seleccionar a informação relevante da que não é relevante e incapacidade de extrair informação do todo - ausência de Gestalt);
Interesses restritos (pela dificuldade de processamento de informação múltipla em simultâneo?) (pode levar a capacidades de pormenor notáveis);
Alteração da coordenação motora (por má integração sensorial?)
Dificuldade no planeamento executivo (poor high level planning) (Controlo executivo deficiente, impulsividade).
Exemplo de restrição de interesses a S. de Asperger
R.R., 14 anos, S. Asperger típico, diagnosticado aos 12 anos. Desde pelo menos os seis anos de idade desenvolveu um interesse obsessivo por caixilharia. Colecciona chaves e fechaduras; ocupa grande parte do tempo fazendo modelos e desenhos técnicos.
Depois de ter entrado pela primeira vez no consultório e aí permanecido cerca de dez minutos (sentado de costas para a janela), foi-lhe pedido que saísse e desenhasse de memória a sala de onde tinha acabado de sair.

S. Asperger na Adolescência e na Idade Adulta
A Síndrome de Asperger pode ser mais difícil de reconhecer durante a adolescência e adultez.
Há invariavelmente problemas escolares, incapacidade de mobilizar esforços para uma actividade que não constitui para eles prioridade e incapacidade de compreender o seu interesse futuro.
A marginalização por parte de colegas pode ser um problema grave. No extremo oposto, pode haver um comportamento agressivo ou mesmo anti-social do indivíduo com S. Asperger. É frequente a incapacidade de trabalhar em grupo de forma adequada.
Os problemas de higiene são frequentes nos adolescentes com Asperger.
A integração no meio laboral é muito difícil. A autonomização pode nunca chegar a acontecer.
São quase sempre incapazes de estabelecer relações afectivo-sexuais estáveis.
A depressão é frequente nestas idades, sobretudo nos indivíduos de comportamento mais passivo.

S. Asperger como Patologia do Desenvolvimento
A Síndrome de Asperger, como patologia de desenvolvimento que é, tem uma expressão que varia ao longo da vida.
A interacção social e a aprendizagem daí resultante tendem a melhorar a expressão sintomática com a idade
A natureza “invisível” das perturbações associadas no Síndrome de Asperger e a invalidez aparentemente moderada que elas provocam, contribuem para tornar o seu impacto social e emocional muito severos.

Problemas Associados à S. A.
Interacção Social
Epilepsia

Plano de Intervenção
· Disponibilização de informação relativa ao SA, aos pais, educadores e instâncias educacionais;
· Planificação de estratégias a implementar a vários níveis
o Pais:
§ Ensinar a iniciar, manter e terminar a interacção social;
§ Explicar tudo aquilo que a criança deveria ter feito
§ Encorajar a presença de um amigo brinque com a criança em casa;
§ Inscrever a criança em clubes;
o Educadores:
§ Promover jogos de cooperação e competição;
§ Servir de Modelo de Relação com a criança;
§ Supervisionar os intervalos escolares;
o Terapeutas:
§ Criar grupos de “capacidades sociais” nos quais se representam, por exemplo, comportamento sociais inadequados pedindo-se em seguida aos alunos que os identifiquem.
· Terapêutica específica:
o Fluoxetina - situações de depressão, ansiedade ou obsessão concomitantes;
o Metilfenidato - situações de desatenção;
o Buspirona/carbamazepina - situações de agressividade ou comportamento auto-punitivo.

Curiosidades
Personalidades com S. A.
Pensa-se que alguns indivíduos, a que normalmente chamamos “crânios” ou “super-inteligentes” tenham sido afectados por esta síndrome, nomeadamente, Alfred Hitchcock, Howard Hughes, Andy Warhol, Woody Allen, Bob Dylan, Bill Gates, Keanu Reeves, Mark Twain, Vincent Van Gogh, Albert Einstein, Henry Ford, Franz Kafka, Isaac Newton e Friedrich Nietzsche.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que estranho! Tantas pessoas com síndrome de asperger e que nós dizemos que são crânios!