quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Entevista a Educadora de Infância

Decidimos partilhar convosco um entrevista que fizemos a uma educadora de infância. Estávamos curiosas para saber como as crianças se portavam no infantário e qual a influência do meio familiar na vida escolar e como se integram as crianças com défices.
Entrevista
O nosso trabalho trata do desenvolvimento cognitivo e comportamental humano desde a concepção até à adolescência.
No âmbito da área curricular não disciplinar de área de projecto, decidimos realizar este inquérito a uma educadora de infância para nos ajudar a perceber os diferentes desenvolvimentos cognitivos e comportamentais, isto porque a variedade é inerente à espécie humana.

1. O que a levou a escolher a sua profissão?
É de salientar que foi desde adolescente, a minha primeira escolha. Sempre gostei de trabalhar com crianças e para elas. Sendo cada criança um caso, a diversidade de personalidades e comportamentos que iriam surgir, obrigar-me-iam, decerto, a actualizar conhecimentos e adaptar a minha prática pedagógica o que poria de parte a eventual monotonia inerente a outras profissões.

2. Com que tipo de crianças lida diariamente?
Ao longo de 25 anos de serviço já trabalhei em diferentes meios. Há 8 anos, trabalho num bairro problemático na periferia de Lisboa. São crianças simpáticas, com grande vontade de aprender mas que apresentam dificuldades no cumprimento de regras. Integrando na sua maioria, famílias destrutoradas e vivendo em condições precárias, as suas atitudes reflectem-se em comportamentos agitados e num baixo nível de poder de concentração o que dificulta a aquisição de hábitos, regras e novos conhecimentos.

3. Alguma vez notou o isolamento de alguma criança?
Sim, varias vezes. O isolamento é um comportamento característico de uma criança que sofre e que não consegue exprimir-se de outra forma. É o sinal de que algo se passa. É necessário estarmos atentos a todos os sinais diferentes que a criança nos tenta transmitir para rapidamente podermos agir, interrogando a família, tentando “diagnosticar” o problema e encaminhando-a da melhor forma possível.

4. Com que tipo de crianças problemáticas lidou ao longo da sua profissão?
Além de problemas físicos ( visuais, motores) já trabalhei com crianças que lhes foi diagnosticado quadros de hiperactividade, síndrome de down e mais recentemente um espectro autista. Neste meio é frequente as crianças apresentarem graves perturbações comportamentais/emocionais, o que condiciona também o seu desenvolvimento a todos os níveis.

5. A essa idade (3-5 anos) já se nota alguma diferença comportamental e social entre essas crianças e as ditas “normais”?

Sem dúvida. É essencialmente nestas idades e até numa intervenção ainda mais precoce, que é feito o despiste e o eventual encaminhamento dessas problemáticas.


6. De que modo avalia o desenvolvimento cognitivo e comportamental dos seus alunos?
Através da ficha de diagnostico preenchida no início do ano lectivo. São também realizadas fichas de avaliação, duas vezes por ano, em que vários parâmetros das diferentes áreas estão contemplados.
Em caso de dúvida, recorremos ao apoio da educadora do ensino especial que por sua vez, e se achar necessário, recorre à avaliação de uma psicóloga.

7. O infantário onde trabalha possui alguma unidade de ensino especial?
Temos um trabalho de parceria com alguns técnicos da CERCI de Lisboa que nos apoiam semanalmente.

8. Se sim, de que modo é que essa unidade ajuda as crianças com dificuldades?
É um apoio essencial, visto abranger varias valências. Semanalmente temos apoio em terapia da fala, hidroterapia, psicomotricidade, psicologia e educação social. Excepto a hidroterapia, todas as outras sessões se realizam nos espaços do jardim-de-infância.
Estando o jardim-de-infância inserido num bairro com poucos recursos, seria difícil as crianças poderem deslocar-se aos diferentes centros. Assim, este projecto beneficia o desenvolvimento, nas diferentes áreas, das crianças por ele abrangidas.

9. Há diferenças visíveis entre as crianças com dificuldades/perturbações e as outras ditas “normais”?
De uma maneira geral existem diferenças. Mas, sendo cada caso um caso não podemos nunca generalizar.

10. Nota nas crianças a influência dos pais problemáticos (alcoólicos, drogados)?
Nunca podemos dissociar a criança do seu meio familiar. A criança transporta toda a carga familiar quer esta seja positiva ou negativa. Todos estes desvios comportamentais por parte dos familiares das crianças, são vividos e encenados pela própria através do jogo simbólico.
O seu comportamento desenvolvimento harmonioso é condicionado, sem dúvida por todos estes factores.

11. Qual a criança que a marcou mais? Porquê?
Não tenho nenhuma em particular, mas todas as crianças que no meu grupo apresentam Necessidades Educativas Especiais (NEEs) exigem de mim um estudo mais aprofundado e uma atenção redobrada.
A sua permanência no jardim-de-infância geralmente é prolongada (é pedido um adiamento da escolaridade) o que implica um maior envolvimento e aprofundamento da problemática e inevitavelmente um relacionamento afectivo mais intenso quer com a criança quer com a família.

12. Como é que os outros ditos “normais” lidam com as outras crianças com perturbações? Como é que lhes explica que os outros são diferentes e como é que eles reagem?
Sem haver necessidade de grandes explicações o grupo no geral, consegue aperceber-se das diferenças. Têm uma atitude de inter ajuda e de protecção desde que a criança não revele comportamentos agressivos. Notam que o seu desenvolvimento se desenrola num ritmo mais lento e por isso tentam ajudá-la.
Muitas vezes esta super protecção tem de ser contrariada para que a criança por si só possa fazer as suas descobertas e tornarem-se mais independentes.
Nos casos de distúrbios comportamentais em que o não cumprimento de regras e a agressividade estão presentes, a aceitação pelo grupo é mais difícil o que exige um trabalho sistemático e contínuo, acentuando os pontos positivos, quer junto do grupo quer com as famílias.

Esoeramos que tenham ficado esclarecidos e que tenham aprendido tanto como nós com esta entevista.

Os nossos cumprimentos,

GEBRA


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